quarta-feira, 19 de março de 2014

Projeto pedagógico a nível Nacional: a Mandala dos Saberes para as Escolas e Pontos de Cultura

A Mandala dos Saberes é uma tecnologia social capaz de ser aplicada em qualquer espaço educacional: Ongs, Pontos de Cultura e escolas. A proposta estrutura-se no diálogo entre os marcos culturais do território escolar e os desafios acadêmicos. Desenvolvida através de seminários de formação continuada para professores e de fóruns virtuais de debates pedagógicos, de forma a que cada escola possa construir projetos pedagógicos capazes de expressarem a cultura local, esta ação vem sendo construída através de parcerias com os Ministérios da Educação e o Ministério da Cultura através dos Programas Cultura Viva (Pontos de Cultura) e Mais Educação (Educação Integral) SECAD / ME. Todas as ações descritas são realizadas nas 5 regiões do país através de equipes regionalizadas da Casa da Arte.


Através dos projetos construídos nas Mandalas, cada escola pode elaborar e visualizar seu projeto educacional e desenvolver suas relações. Os projetos nascem da interseção dos saberes escolares com os comunitário. As Mandalas/Projeto de Educação Integral expressam tanto as particularidades como suas imprevisíveis relações.
As Mandalas são pequenos círculos capazes de amplificar as muitas relações entre saberes; possuem tanto uma dimensão interior (dentro da escola e comunidade), como agem para o exterior (na rede de escolas e na cidade), como pequenos círculos em expansão, em busca de suas dimensões em rede. Cada uma significa pequenos sistemas, pois são individualidades de saberes atuando em grupo, em relação. Suas partes estão coordenadas entre si estruturando uma organização, o projeto de educação integral de cada escola/comunidade.
Através da criação de diversas Mandalas, cada uma caracterizando um projeto de educação integral, o que se pretende é a construção de uma constelação de Mandalas, uma vez que elas respondem a diferentes contextos e devem representar nossa diversidade.


1º PASSO - No centro sugerimos colocar o nome da escola;
2º PASSO - No segundo círculo indique o objetivo: a construção de projeto de educação integral.
3º PASSO - No terceiro círculo, indiquem os saberes comunitários. São eles que os apoiarão no desenrolar do projeto. Neste momento é necessário decidir se serão trabalhados todos os saberes apresentados na mandala de saberes comunitários, ou selecionados alguns (para esta decisão procurem pensar nas características das experiências comunitárias). Ao colocá-los em círculo, não os coloquem aleatoriamente um ao lado do outro, procurem pensar que relações vocês pretendem construir com os programas de governo, ou seja, com o próximo círculo. Lembre-se de que o desenho das Mandalas é um desenho de relações, as posições não são aleatórias, todas devem fazer sentido.
4º PASSO - Se facilitar, vocês poderão criar uma outra linha na qual façam referência aos saberes comunitários identificados. Por exemplo, se selecionarem habitação, indicar qual as características da habitação nesta comunidade. Esta sugestão pode facilitar a identificação do perfil cultural da localidade.
5º PASSO - A seguir identifiquem os Programas de Governo que irão apoiá-los no desenvolvimento do Projeto de Educação Integral. Para auxiliar procurem as referências nos programas e os relacionem aos desafios e aos saberes comunitários
6º PASSO - Os saberes escolares devem ser identificados em diálogo com os círculos e saberes já apontados nos círculos anteriores.
7º PASSO - Na última linha, se quiserem, vocês podem indicar algumas relações com as áreas do conhecimento escolar: linguagens, códigos e suas tecnologias, ciências da natureza e matemáticas e sociedade e cidadania. Dessa forma, fica mais fácil identificar as equipes da escola que deverão estar envolvidas no projeto.

Metodologia Mandala dos Saberes

Ao longo de sua existência, a Casa da Arte de Educar tem contribuído de forma inovadora para a qualificação da educação pública no país, através de suas práticas educativas e da criação de uma metodologia chamada MANDALA DOS SABERES, desenvolvida em 2007 para a Educação Integral e, atualmente adaptada e aperfeiçoada para a EJA.
O trabalho estrutura-se numa práxis que busca aliar o fazer à pesquisa e vem constituindo-se num espaço de formação para os profissionais envolvidos, bem como para a construção de políticas públicas no país. Esta tecnologia social vem sendo capaz de colaborar para a ampliação do diálogo entre escolas e comunidades, valorizando a integração entre os saberes locais e os saberes acadêmicos.
A metodologia se estrutura a partir do diálogo entre conteúdos escolares e a cultura popular. A instituição entende que o sucesso da proposta está diretamente articulado à capacidade de integração de experiências, conteúdos, projetos, intenções e métodos, ou seja, do avanço nas teses de Paulo Freire entre a educação e a cultura. O objetivo foi criar um sistema não linear e simples, capaz de representar o complexo esquema articulado entre currículos e a vida cotidiana. As Mandalas de Saberes podem assumir diferentes formas e assim permitir que a diversidade da cultura seja expressa em projetos pedagógicos. Além de ser um símbolo utilizado em diversas culturas, ao longo dos séculos.

Saberes entre escolas e comunidades

Entre escolas e comunidades circulam, pelo menos, dois grandes grupos de saberes. De um lado, os saberes avalizados pela sociedade através da produção acadêmica, de teses, publicação de livros etc. Conhecimentos que se estruturam através do desenvolvimento de ideias, que são sucessivamente reprocessadas. Estes conhecimentos são desenvolvidos em áreas específicas, distintas entre si (embora este aspecto já seja questionado dentro do próprio pensamento acadêmico).
Em relação direta com a vida encontramos os saberes que têm origem no fazer, que têm a experiência como grande fonte. É também importante dizer que eles não estão organizados por áreas e, quase nunca, suas fontes estão em livros. Ambos os saberes possuem limitações e possibilidades semelhantes.
É importante ainda lembrar que fomos habituados a opor o saber e o fazer. A teoria e a prática – esta divisão está muito arraigada em nossa cultura e, portanto, as escolas e comunidades também têm, interiorizados, esses valores.
O pensamento científico não precisa estar em oposição ao saber local, é preciso recuperar o encantamento e a confiança e para isto relacioná-lo aos desafios cotidianos. À medida que há um avanço no diálogo se formulará um pensamento síntese, capaz de fazer desaparecer a distinção hierárquica entre o conhecimento científico e o cotidiano, impulsionando os educadores para uma prática reflexiva ou para uma filosofia da prática.
Considerando-se que o saber é produzido socialmente pelo conjunto das pessoas nas relações por elas estabelecidas em suas atividades práticas, isto é, no seu trabalho, deve-se levar em conta que o indivíduo aprende, compreende e transforma as circunstâncias ao mesmo tempo em que é por elas transformado.
Todos os educadores, principalmente depois de Paulo Freire, reconhecem que para caminham na direção de uma educação de qualidade é preciso que ambos os saberes encontrem espaços de interseção, mas nossos resultados ainda são muito tímidos. Este trabalho pretende colaborar nesta direção.

A Relação dos Saberes

O modelo desenvolvido, a partir de um ponto de vista intercultural, buscou registrar as passagens de saberes mais ou menos auto contidos para processos de interação, confrontação e negociação entre os sistemas. A circulação de saberes e bens culturais não são simples operações pedagógicas ou políticas, elas instauram outras formas de compreender a cultura e aprendizagem.
O esforço é para que o currículo escolar não seja somente um instrumento referendado pela sociedade, mas para que possua significado também pela comunidade na qual a escola situa-se. Muitos dos problemas atualmente os estudantes de escolas públicas possuem estão situados na distância entre suas experiências de vida e os conteúdos que são desenvolvidos nas escolas. Como desenvolver diálogos de saberes?
O desafio foi rever as áreas de saberes escolares, buscando relações capazes de ampliar seus limites e contornos a partir das experiências comunitárias. A “Mandala” apresenta um sistema de saberes que se justapõem se sucedem, se sobrepõem, se entrecruzam sem que se transformem em um esquema linear. Todos os agentes envolvidos neste processo (pais e responsáveis, os alunos de todas as faixas etárias, professores das escolas, coordenadores, diretores de escolas e todos os membros das comunidades) são agentes portadores de experiências distintas que precisam estar articuladas em um projeto comum, e através das Mandalas constroem espaços de diálogos visíveis.
Na Mandala de Saberes a instituição não pretende reproduzir políticas de assimilação, mas assegurar as autonomias culturais dos envolvidos. Para isso é preciso reconhecer que identidade não é um assunto ontológico, mas político: os sujeitos estão situados “no meio de” espaços de diferenças como raça, classe e gênero, e sem dúvida estes espaços possuem comunicação é preciso persegui-las. Este é o trabalho do educador interessado em promover mudanças sociais através do diálogo entre cultura e educação.

Apresentação dos Saberes Comunitários

Com o objetivo de facilitar a compreensão de que a cultura manifesta-se em diversos campos de nossa vida cotidiana, apresenta-se várias áreas da cultura local estimulando que professores venham a pesquisá-las em seu território de atuação.


As pessoas vivem em algum lugar e tendem a viver naturalmente juntas. Isso nos faz pensar em espaços mais ou menos delimitados de complexidade social. Mesmo a menor cidade divide seus habitantes e suas casas em grupos. Podemos chamar de comunidade os territórios ou bairros, um conjunto de bairros, algumas ruas, mas sempre são locais onde as pessoas conseguem alguma familiaridade social, geográfica e histórica, onde vivem processos sociais, econômicos e políticos relativamente comuns.
Os saberes comunitários representam o universo cultural local, isto é, tudo aquilo que nossos alunos trazem para a escola, independentemente de suas condições sociais. Esses saberes são os veículos para a aprendizagem conceitual: o que se quer é que os alunos aprendam através das relações que possam ser construídas entre os saberes. Os alunos devem, portanto, ser estimulados a usar seus saberes e idéias a fim de formularem o saber escolar. Procuramos identificar aspectos gerais que possam ser aplicados a diversos contextos, uma vez que se trata de áreas articuladas à estrutura da realidade social e cultural brasileira. Selecionamos onze áreas distintas de saberes:

Habitação – Como se caracterizam as experiências com o espaço? O sentido de próximo/distante; grande/pequeno? Onde e como moram os habitantes deste território? Como são construídas as casas? Identificam-se técnicas específicas? Quais influências (heranças culturais) podem ser reconhecidas? Quais os materiais mais utilizados? As casas foram planejadas? Quem as construiu? Que área ocupam? Quanto aos espaços comuns como caracterizá-los? Há serviços básicos como água, esgoto, luz, correio, endereço? Que outras construções e serviços existem? Fábricas, comércios, distribuidoras? Bibliotecas? Praças?
Corpo/vestuário – Como os membros dessa comunidade/território movimenta seu corpo no cotidiano e nas festas? Que experiências corporais possuem? Há esportes ou danças que marcam a vida comunitária? Que gestos e gingas são mais usados, e em quais circunstâncias? Quais as influências de outros povos e culturas nessa experiência corporal identificada? Como se vestem? As roupas têm características comuns? O que é valorizado? Quem costura? Que materiais são mais utilizados? Por quê? As matérias-primas são locais?
Alimentação – Como se alimentam? Há falta ou abundancia de alimentos? Há desperdício (como, de quê)? Quais são as comidas prediletas das distintas gerações? Quem cozinha? E em que condições? Como combinam os alimentos? Como distribuem e compram os diversos alimentos? A comunidade produz alimentos industrializados ou agricolas? Que relações podem ser estabelecidas entre as comidas e o calendário de festas?
Brincadeiras – Quais são as brincadeiras favoritas (observar as faixas etárias e suas características)? Há diferenças entre as brincadeiras e jogos desenvolvidos na escola e na comunidade? As regras são as mesmas independentemente do contexto? O que muda? Por que muda? As brincadeiras no tempo (observar as relações com a tradição oral). Como brincaram as outras gerações? As brincadeiras e as novas tecnologias, o brinquedo ontem e hoje.
Organização política – Todos os grupos sociais buscam na organização política responder ativa e coletivamente aos desafios que se apresentam. Observe como instauram a idéia de lei, de justo/injusto, proibido/permitido. A ordem social se estrutura a partir das relações entre o poder, direitos, deveres e os cidadãos. Como, neste território, se desenvolvem estas relações? Como o grupo vivencia as regras sociais? Quais os conflitos mais freqüentes? Entre quais atores e interesses sociais?
Condições ambientais – Quais as características geográficas da comunidade? Como o meio ambiente influencia as condições de vida? Qual a história e quais os desafios do desenvolvimento da região? Houve preocupação ambiental neste processo? Quais os atuais desafios ambientais? Como são enfrentados?
Mundo do trabalho (moedas de troca) – Quais os trabalhos mais comuns nesta comunidade? É possível identificar relações entre o mundo do trabalho e a organização político cultural, com as condições ambientais e outros? Qual a qualidade de vida produzida? Através de seu trabalho a comunidade vem encontrando saídas para os desafios locais? O dinheiro é a única moeda de troca entre os moradores da comunidade? E quanto à troca de serviços, como são desenvolvidas as redes de solidariedade? Explorar as relações entre os valores e as práticas comerciais, as trocas de serviços etc.
Curas e rezas – Como cuidam da saúde? Quais os hábitos? Como solucionam os males físicos que enfrentam? Quais as relações da saúde com as condições ambientais? Além da medicina tradicional, quais as tradições e remédios utilizados? Quais as receitas? Como são preparados esses remédios? Por quem? Utilizam rezas para a cura? Há relações entre as rezas e as plantas ou remédios populares?
Expressões artísticas – Elas integram o universo da produção do simbólico, que se expressa em pelo menos quatro linguagens distintas, embora nem sempre independentes. Muitas festas populares e manifestações mais contemporâneas reúnem mais de uma área de expressão numa mesma criação. Podemos, para fim deste trabalho, considerar também as expressões:
VERBAIS: Há particularidade na forma de se comunicar? Quais as expressões mais utilizadas? Quais as gírias? Que relações podem ser estabelecidas entre as expressões verbais e as lendas e as narrativas locais?
VISUAIS: (refere-se ao mundo da imagem) Quais as expressões visuais produzidas? Cartazes? Vestuários? Decorações de festas? Murais? Decorações?
CORPORAIS: Quais as festas e danças? Há dramatização teatral?
MUSICAIS: Há tradição musical específica? A indústria cultural ou cultura de massa, como são estabelecidas as relações?
Narrativas Locais A vida comunitária é marcada por diversas histórias, algumas ocorridas (fatos comprovados) e outras das quais não se tem certeza, mas às quais todos se referem (as lendas); todas possuem o mesmo valor pois estruturam o imaginário local. É interessante pesquisar esse repertório de histórias e as relações com as outras áreas de experiências comunitárias, como as rezas e curas, as receitas, expressões artísticas, etc.
Calendário Local É interessante reconhecer e valorizar as datas representativas para a experiência comunitária e compará-las com o calendário socialmente instituído. O calendário comunitário é geralmente composto de crenças, homenagens, personagens, e expressa as histórias daquele grupo.

Mandala de relações entre os saberes comunitários e escolares

Através da Mandala é possível visualizar espaços de interseção entre a cultura local e o currículo escolar pois várias relações podem ser desenvolvidas entre ambas. Desta forma, a diversidade cultural funcionará como ferramenta de auxílio à construção de estratégias pedagógicas para educação integral, promovendo condições de troca entre saberes diferenciados. É importante tornar a Educação um laboratório de experiências culturais, sociais e históricas em que a realidade e o conhecimento adquiram sucessivamente novas formas
A Mandala de relações de saberes foi criada para demonstrar que os saberes comunitários e os escolares possuem estruturas comuns de investigação embora com metodologias e formulações diferenciadas.
Os conhecimentos são socialmente construídos – isto é, são resultados de práticas que mobilizam recursos intelectuais de diferentes tipos, vinculados a contextos e situações específicas. O trabalho do professor é buscar relacioná-los.
As relações entre os saberes apresentados nesta Mandala, quer mostrar que não existe entre escolas e comunidades uma relação assimétrica: doador (escola) x recipiente (comunidade); conhecimento (escola) x ignorância (comunidade); ensinar / aprender; pensar / agir; recomendar / seguir; desenhar / implementar.


Fonte: www.artedeeducar.org.br




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