quinta-feira, 4 de novembro de 2010

O ENSINO DA MATEMÁTICA NA ESCOLA

Tradicionalmente, ensinar matemática consiste em apresentar conceitos, seguidos da exemplicação e de numerosos exercícios de fixação. O professor explica a "matéria" e apresenta exemplos que devem ser usados como modelos pelos alunos para resolver os exercícios propostos. O foco está no conhecimento social: definições, regras, fórmulas e algoritmos são transmitidos pelo professor como fins em si mesmos, acreditando-se que uma vez que o aluno domine esse conhecimento será capaz de mobilizá-lo na resolução de problemas.
Esse foi o modelo de ensino vivenciado por mim como estudante e provavelmente seja o mesmo vivenciado por grande parte dos leitores. Não há como negar a influência da própria formação escolar na construção de nossa prática docente. A despeito das pesquisas em cognição e aprendizagem, que nas últimas décadas vêm apontando para a importância do papel ativo do aprendiz na construção do conhecimento, muitos de nós, professores, quando nos deparamos com a necessidade de ensinar conteúdos específicos aos alunos, recorremos à tradição escolar, ou seja, aos modelos por nós mesmos vivenciados como estudantes.
Para que haja uma real ruptura com esse modelo de ensino é necessário estar consciente de suas limitações, pois do contrário não há motivos para buscar uma nova forma de ensinar matemática. No entanto, antes de abordar tais limitações gostaria de esclarecer, desde já, meu posicionamento sobre um certo saudosismo que venho observando nos últimos anos por parte de alguns educadores. Eles afirmam que na "sua época" o ensino era tradicional e os alunos aprendiam de verdade e que o ensino no país foi piorando na mesma medida em que as escolas começaram a se apropriar de novas metodologias de ensino.
Em primeiro lugar, não podemos deixar de considerar que essa escola não era uma escola para todos. Somente alguns podiam frequentá-la e estes possuíam uma estrutura familiar e um ambiente cultural bastante favorável à aprendizagem, sendo que muitas aprendizagens podiam acontecer mais em decorrência desses fatores do que da escola em si. Além disso, ao afirmar que os alunos realmente aprendiam, é preciso esclarecer de que concepção de aprendizagem estamos falando e que critérios estamos levando em conta, pois "respostas corretas" nem sempre são indícios incontestáveis de que houve aprendizagem.
Finalmente, questiono: será que podemos afirmar que a escola hoje usa realmente novas metodologias de ensino? A metodologia pressupõe a teoria dos métodos de ensino, portanto, não mudança na metodologia sem uma modificação consistente nas teorias de base de cada professor. Uma nova prática pedagógica requer uma nova concepção de aluno, de professor e do próprio processo de aprendizagem, sem as quais mudam-se discursos e maquiam-se as práticas, carecendo de uma modificação verdadeira capaz de refletir seus resultados no rendimento escolar dos alunos.
Nossos alunos podem desenvolver o pensamento matemático, desde que sejam desafiados e estimulados a pensar. Mas para isso é necessário controlar nosso impulso "quase incontrolável" de explicar a matéria. Quando explicamos, temos a ilusão da missão cumprida, como se os alunos aprendessem por causa das nossas explicações e não em decorrência da sua própria atividade mental (a qual deve ser desencadeada pelo professor).
Explicar é mais rápido, encurta o caminho!
Mas aprender não é atividade que se realize de forma rápida, apressada. Aprender requer tempo, requer investimento (por parte de quem ensina e de quem aprende).
Precisamos aprender a ensinar, ou seja, precisamos modificar nossas velhas ideias sobre o ensino e aprendizagem, em casa e na escola. Não podemos mais aceitar que nossos alunos fiquem na escola sem aprender!
Nossa intenção é fomentar um movimento e contagiar você, leitor(a), para que possamos palmilhar juntos caminhos com resultados mais produtivos.
Ficar na escola sem aprender?
Isso nunca mais pode acontecer!
Livro: Na escola sem aprender? Isso não - Três olhares sobre o aprender e o ensinar
Ana Ruth Strepravo/Isabel Cristina Hierro Parolin/Sandra Bozza
Editora Melo
(Revista Pré-texto)

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