"Com a adoção das
tecnologias digitais dentro e fora das salas, a transmissão do conhecimento vem
se tornando um grande desafio para os professores"
O termo
Educação 3.0 foi usado para definir o impacto na educação do aprendizado
colaborativo e personalizado
O saudoso e
visionário educador Paulo Freire, que nos deixou em 1997, já havia profetizado
as transformações pelas quais a pedagogia passaria a partir da adoção de uma
educação colaborativa: "Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo,
os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo".
Com a adoção
das tecnologias digitais dentro e fora das salas de aula, a transmissão do
conhecimento vem se tornando, rapidamente, um grande desafio para uma geração
de professores que estudou e aprendeu a ensinar em uma era pré-digital e não
contava com recursos de interação e colaboração capazes de conectar mestres,
estudantes e a sociedade civil de uma forma geral, independente de formação,
cultura ou nação onde vivem.
Com tantas
ferramentas à disposição para aprender e compartilhar, a Geração Y está
exigindo das escolas uma veloz revolução nas metodologias de ensino capazes de
sedimentar uma estrada sólida para a Educação 3.0, termo que vem sendo
amplamente disseminado por pensadores como o americano Jim Lengel, professor da
Universidade de Nova York, que, entre outros fatores, define esta nova escola
como uma instituição na qual "alunos e professores produzem em
conjunto, empregam ferramentas apropriadas para a tarefa e aprendem a ser
curiosos e criativos".
O termo
Educação 3.0 foi usado pela primeira vez em 2007, pelo professor Derek Keats,
da Universidade de Witwatersrand, de Joanesburgo (África do Sul), para definir
o uso e o impacto na educação do aprendizado colaborativo e personalizado, a
reutilização de conteúdos de aprendizado e o reconhecimento do aprendizado
através de métodos formais ou informais.
O conceito
também mobiliza uma comunidade on-line para líderes educacionais em todo mundo:
a GETideas.org, criada pela Cisco Global Education, que enxerga a Educação 3.0
como uma visão holística e transformadora dos processos educacionais.
Um programa
global pioneiro do British Council, batizado de Connecting Classrooms, é um
excelente exemplo de como a educação do Século XXI pode derrubar fronteiras
através do uso das tecnologias digitais. O projeto, que está abrindo inscrições
para instituições educacionais de todo mundo, visa formar cidadãos com uma
visão mais global acerca da realidade de outros países e, assim, prepará-los
melhor para os desafios futuros.
Para isso, o
projeto conecta e estimula a troca de experiências e conhecimento entre
estudantes dos ensinos fundamental e médio dos quatro cantos do planeta através
de um sistema de parceria entre as escolas. Todas as atividades são baseadas em
eixos temáticos relacionados à cultura e sociedade locais e utilizam
ferramentas digitais. A interação entre as escolas dos 51 países participantes,
entre eles Brasil, Alemanha, China, Espanha, Índia, Líbano, Marrocos e Nigéria,
é feita a partir de uma plataforma tecnológica própria e o idioma oficial para
compartilhar as tarefas é o inglês.
Preparar os
estudantes desta nova geração para o mercado de trabalho irá exigir - e já está
exigindo - uma nova postura dos educadores orientada para a Sociedade do
Conhecimento, que, entre outros princípios: busca desenvolver alunos engajados,
motivados e prontos para enfrentar os desafios de hoje e do futuro; enxerga o
aprendizado como uma ação continuada, que não se restringe às oportunidades
apresentadas pelo professor; acredita que o aprendizado é para todos e ninguém
deve ser excluído; reconhece que as pessoas aprendem de forma diferente; e
provê uma infraestrutura necessária para o aprendizado, que ainda é físico, mas
cada vez mais virtual.
Repensar os
modelos pedagógicos e o tradicional formato das salas de aula, onde o professor
era o único detentor do conhecimento, é tão urgente quanto simplesmente
investir na implementação das tecnologias digitais. É preciso, antes de mais
nada, preparar nossos professores para lidar com esta nova geração, que hoje já
não precisa mais ir às bibliotecas ou carregar livros pesados para ter acesso à
novas informações.
Nesta nova
realidade pedagógica, o professor não somente ensina, mas, principalmente, aprende.
Ele deve estar pronto para lidar com alunos cada vez mais conectados e
informados e que, muito mais do que mestres, querem encontrar mentores capazes
de facilitar o processo de aprendizado e aptos a direcioná-los para solução de
problemas que irão enfrentar para construir uma sociedade melhor.
A evolução da Sociedade do Conhecimento nos leva a uma outra citação de Paulo Freire: "Ninguém ignora tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa. Por isso aprendemos sempre". Anote aí e boas aulas!
A evolução da Sociedade do Conhecimento nos leva a uma outra citação de Paulo Freire: "Ninguém ignora tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa. Por isso aprendemos sempre". Anote aí e boas aulas!
Luciana Maria Allan é diretora do
Instituto Crescer para a Cidadania e Doutora em Educação pela Universidade de
São Paulo (USP) com especialização em tecnologias aplicadas à educação.
Fonte: Educar para Crescer
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